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26 de fevereiro de 2016

Minha criança

Vão fazer dois anos
Desde que voce se foi
Era um fim de tarde
Me lembro bem do sol se pondo
Quando voce me deixou
Desde então, foi fim de tarde em mim



Tentei retomar o folego
Uma por uma, enxuguei cada lágrima
Andei a deriva, como um determinado segue seu caminho, rumo a um objetivo
Eu não tinha nenhum
Em meus olhos, só havia voce
Tudo em meu caminho me fazia lembrar

Outras tantas vezes me pus a chorar
Tentativas vãs, de não mais sofrer
Entre verões e invernos
Algumas lembranças se desgarraram de mim
Eis que o tempo passava e começava a fazer efeito
E que bons efeitos... aos poucos voltei a respirar



Ainda hoje lembro voce
Mas hoje, não sinto mais a dor
Confesso, ainda ando por aí
As vezes, como quem não sabe bem onde quer chegar
Abri mão de muitas coisas, quando abri mão de voce

Quanto ao que eu sentia, quanto ao meu amor
Voce, eu e o tempo, o silenciou
Já não mais o escuto falar
Ainda que eu o sinta serenamente
Como a última folha que se solta da árvore
Num longo outono de ventos e melodias



Eis que a sua sombra me reapareceu
E ela me contou que aquele a quem um dia eu amei, não permaneceu
Era um menino, mas agora cresceu
O menino não existe mais, agora há apenas um homem feito

Quanto a mim, a morte do seu menino, libertou o meu
Permaneço o homem que fui, desde o dia que me conheceu
Mas não deixei morrer o meu menino



Eu, o homem e o menino que somos, correm pela grama
Mergulham no mar, flutuam sobre os corais e dançam na frente do espelho

Que a liberdade nos traga harmonia
Ao homem e ao menino

E que todas as crianças mortas em pessoas adultas, possam ressuscitar.