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29 de outubro de 2017

Uma oração, uma prece, um mantra, uma meditação

Que nesta manhã
As nossas forças sejam renovadas
Que o nosso espírito encontre paz
E que a nossa existência perceba a intensidade de uma caminhada serena
Que possamos caminhar em gratidão, abraçar em gratidão, viver em gratidão

21 de outubro de 2017

Vinte e quatro horas por dia

Já respirei saudades
Vinte e quanto horas por dia

Já fui lembrança
A cada novo passo

Já fui ausência
No café, no almoço e no jantar

Já não sou mais o que fui um dia
Sou outro homem
Um novo homem
Ainda que parte do mesmo

Tenho outros sentimentos
Tão intensos quanto as saudades que um dia senti

Tenho outros sentimentos
Tão intensos quanto a ausência que me habitou

Sou liberdade
Vinte e quatro horas por dia

Também faço minhas escolhas

Respeito o que sinto
Respeito o que penso
Respeito e silêncio aquilo que não conheço

Observo mais
Ouço com mais delicadeza
Ouvir, apenas ouvir

Se sinto que é bom
Se sinto que é luz
Se sinto que é amor
Acolho e escolho

Torno ainda mais intenso o que sinto melhor
Ou me reservo o direito de recuar se não me fizer tão bem assim

Tem que me fazer bem
Tem que propagar o bem
Não só à mim
Não só aos meus

O bem deve ser possível à todas
Todas as pessoas

Tenho autonomia compartilhada
Trilhando novos caminhos
Descubro outros de mim

A cada nova situação
Me percebo outro, melhor

Mais leve
Menos tenso
Mais feliz

Quando não, é simples
Me reprogramo
Não eletronicamente
Mas sempre com música

Conectado comigo
E com o nosso universo
Me faço outro
Me refaço outra vez
E mesmo assim, continuo sendo eu a cada novo recomeço.


9 de outubro de 2017

Meu renascimento - Uma reflexão sobre a #curagay e a #homofobia.

No dia 18 de novembro desse ano, celebro meu renascimento. Isso mesmo. 18 de novembro de 2007 foi o dia em que eu renasci. Há dez anos atrás me vi mergulhado num quadro depressivo que parecia não ter jeito.
Naquele contexto, eu vivia um drama acentuado, havia saído de um Seminário Evangélico, faltava apenas um semestre para me formar em Bacharel em Teologia, quando precisei enfrentar naquele contexto o meu maior drama, o meu maior fantasma.
Minha infância foi marcada por algumas violências, por ter alguns “jeitinhos”. Sempre ouvia algumas sentenças: “Isso é coisa de mulher!” “Seja homem!” “Seu viadinho!” Na minha adolescência havia tomado uma decisão: não ser homossexual. Como se isso fosse uma questão de escolha, tipo: “Hoje vou tomar café com leite”.
Naquele momento eu tinha exatos 23 anos. Naquele momento eu tinha um projeto de vida, meu sonho era ser pastor, meu sonho era não ser homossexual. Por favor, não estou sendo irônico, mas franco e sincero.
No entanto, me deparei com a minha realidade, com o sujeito que eu era e sou. Há dez anos, há exatos dez ano, minha alma, minha mente, meu coração... tudo em mim era apenas dor. Naquele momento, eu entendia que a homossexualidade, ou melhor, o meu sentimento e atração por pessoas do mesmo sexo, estava me destruindo, destruindo a minha vida. Tudo o que eu queria era me livrar da minha homossexualidade.
Me submeti à uma terapia que tentou me conduzir ao fator que supostamente me fazia sentir desejo por homens. Embarquei numa tortura que quase me tirou a vida. Embarquei numa investida onde o único objetivo era a reversão. Tudo o que sentia era dor. Se por acaso, havia algum sentimento diferente disso, era nojo, vergonha, medo, raiva. Nada ali me fez bem.
Mas eu não tinha forças, não tinha força alguma para romper com aquilo. Aquela parecia ser a única forma de resolver aquele problema. Aquela tortura seria para o meu bem. Eu haveria de me curar, de me livrar da minha homossexualidade. E se eu deixasse de ser homossexual, eu poderia ter minha vida de volta. As pessoas iriam gostar de mim, iriam me respeitar, iriam ser minhas amigas.
Eu fiz tudo o que eu podia para deixar de ser gay. Orava à Deus, pedia que tivesse misericórdia de mim, que me transformasse, que me livrasse daquele “mal”. Mas nada que eu fizesse adiantava. Comecei a pedir a Deus que me tirasse a vida, pra que minha família e meus amigos evangélicos não passassem pela vergonha de ter um gay na família, ou um gay como amigo – quanto absurdo.
Trabalhava num shopping da cidade e comecei a me expor em situações de risco. Lembro que voltava para casa do trabalho tarde da noite, caminhando pelas ruas de Manaíra. Esperava que alguém na rua me abordasse em um assalto e ali, naquele assalto eu poderia ter os meus problemas solucionados. Uma tiro no peito ou na cabeça, haveriam de me livrar daquela dor.
Até que na noite do dia 17 de novembro de 2007, eu não conseguia encontrar o sono. Pela terceira vez consecutiva, eu não dormia, apenas chorava, chorava e chorava. Não sei qual era a hora quando me levantei da cama para ir ao banheiro. Quando estava saindo do banheiro, vi uma caixa, do tamanho de uma caixa de sapatos, onde minha mãe guardava os remédios da casa.
Não sei explicar. Não sei como foi aquilo. Não havia planejado. Mas naquela hora, eu não pensava em outra coisa. Tomei todos os remédios que estavam ao meu alcance, todos. Eu não pensava em outra coisa, apenas queria me livrar daquela dor, da minha vida, da minha vergonha, do meu medo, da minha culpa, dos olhos que me julgavam, dos dedos que me apontavam, de todos os preconceitos que eu sofria e sem dúvida alguma, o pior deles era todas as ideias que tinha contra mim.
O dia amanhecia, quando minha mãe tentou me acordar. Assustada, perguntava o que eu havia feito com todos aqueles remédios. Lembro que respondi que havia tomado todos. E ela me perguntou por qual motivo eu havia feito aquilo. Respondi que queria morrer. Me segurando nos braços ela gritou por meu irmão, chamava chorando por todos que pudessem ouvir.
Meus irmãos me colocaram num carro. Estavam comigo no banco de trás do carro. Ela de um lado, ele do outro e eu no meio. Quanta dor. Tenho algumas lembranças fragmentadas daquele momento. Lembro de chegar ao hospital, de ser conduzido por meus irmãos até uma maca. Lembro do choro deles. Lembro que o dia amanhecia.
Conversando com minha mãe, no início desse ano de 2017, ela disse que não conseguiu ir ao hospital. Que não tinha forças. Que não queria me ver morrer.
Quando acordei daquela investida mal sucedida – graças a Deus – já havia deixado de ser manhã. Era a tarde linda de 18 de novembro de 2007. Voltando pra casa. A casa estava cheia. Tinha muita gente, muita gente mesmo. Francamente? Eu não tinha nem energia para olhar pra eles.
Ao meu lado, uma amiga e ex-namorada. Ela estava de moto. Pedi pra que ela me tirasse dali. Eu mesmo fui pilotando a moto e ela comigo. Fui até o mirante da Praia do Cabo Branco, aquele antes do farol. Ali, diante do mar e do céu, olhando o horizonte, naquele fim de tarde de um domingo, eu renascia.
Fiz à Deus uma promessa. Que nunca mais na minha vida iria lutar contra aquilo que eu era.
Hoje, madrugada do dia 9 de outubro de 2017, escrevo este texto por algumas razões.
Antes de qualquer coisa, sei que tem muita gente que já tirou sua vida, pelo simples fato de não aceitar sua homossexualidade. Também sei, que muitos podem estar reféns da depressão e do desejo de morte, por achar que a homossexualidade é um pecado, um erro, uma falha, ou algo pelo qual devemos sentir vergonha e culpa. Não!
Minha homossexualidade não me tornou um ser um humano pior ou melhor que outros. Minha homossexualidade não me fez infeliz, inferior, indigno ou qualquer coisa do tipo. Se havia alguma coisa da qual eu precisava me livrar, era das minhas culpas, das minhas angustias e dos meus preconceitos.
A luta contra minha homossexualidade, me tornou um ser humano infeliz, me levou à depressão e me fez tentar suicídio. Depois desse fatídico dia, fui levado por amigos a uma médica psiquiatra, e a partir daquele momento eu comecei a tratar da minha depressão com medicamentos e obviamente que abri mão daquela terapia reversa que apenas me torturava e que me dizia que deveria ser alguém que eu não era. Ao mesmo passo, me dizia que aquela pessoa que eu era, não deveria existir.
Hoje tenho uma relação linda e singular com toda a minha família e pessoas amigas. Amo meus pais e sou amado por eles. Minha mãe é minha melhor amiga. Meus irmãos são os melhores amigos que eu poderia ter. E do mesmo modo, acolho e sou acolhido com afeto por minha avó, por meus sobrinhos, tios, tias, primos e primas – Não há unanimidade. Alguns insistem em me lembrar de alguns trechos bíblicos que condenam a homossexualidade. Muitos se esquecem de tantas outras condenações feitas no mesmo texto. Limitam-se as condenações. Flexibilizam o mesmo texto quando estão na mira do dedo que aponta. Desconsideram o amor contido ali.
Pois bem, minha homossexualidade não me faz triste.
Ser quem sou me faz uma pessoa feliz, é maravilhoso poder ser você mesmo.
Se tem uma coisa que me entristece é o preconceito, o ódio e as violências das imposições, dos discursos moralistas, das falas e posturas hipócritas. São discursos como esses que violentam psicologicamente e que ao mesmo passo “legitimam” o ódio em tantas pessoas que de forma banal e desumana, decidem tirar a vida de alguém pelo simples fato de não aceitarem que eles possam ser quem são.
Hoje eu escrevo para dizer que não aceito tais discursos.
Escrevo para dizer que não vou me calar diante de todas as investidas malignas de criminalizar a homoafetividade.
Ainda que "vocês" continuem nos tirando o direito à vida.
Enquanto muitos decidem odiar homossexuais, eu decidi ser quem sou, decidi viver minha vida. Aprendi a me respeitar e me querer bem. Meu mundo ficou bem melhor assim, não só meu, mas de todos que estão perto de mim.
Eu renasci.
Apenas um detalhe. No dia 18 de novembro, Elza Soares estará se apresentando no Teatro Pedra do Reino em João Pessoa. Momento lindo para celebrar a vida e o meu renascimento. Vamos?